Visto Japonês como Brasileiro

Não sei se é só comigo, mas a experiência de tirar o visto japonês é aterrorizante. Já voei mais de 400.000km, não-sei-quantos-países, mas esse visto me tira o sono.

O fato de você precisar comprar uma passagem aérea não-muito-barata antes de pedir o visto é brutal. Imagina você comprar uma passagem de R$5.000, talvez o dobro se for com o cônjuge, pra ser rejeitado por motivos bobos como sua foto ter ficado na proporção errada.

Eu vou focar em alguns detalhes que não achei facilmente em outros sites. Se você quer a lista completa de documentos que precisa, melhor pesquisar noutro lugar.

Vamos às dicas:

  • escreva uma carta ao cônsul: já fiz 3 pedidos de visto, e nas 2 que foram aprovados eu havia escrito uma carta ao cônsul (ou embaixador se você estiver noutro lugar). É só um texto impresso dizendo que amo o Japão, a cultura, e quero poder vivenciar o país etc. Tudo muito abstrato, sem nada definido. Isso deve ajudar bastante porque é um elogio forte ao país associado ao seu pedido, não só documentos de identidade. Na primeira vez eu fiz à mão, na segunda pedi pro ChatGPT escrever pra mim.
  • leve a certidão de casamento: se é casado, não esqueça da certidão de casamento. Vi muitos casos de pedido negado por causa disso.
  • considere uma reserva de passagem sem comprá-la: o consulado pede que você compre uma passagem antes do pedido, portanto essa dica é por sua conta e risco. É possível reservar uma passagem por $14, a qual é automaticamente cancelada depois (detalhes abaixo). Eu fiz isto no terceiro pedido e funcionou, mas todos os sites da internet dizem que não funciona. É possível que eles tenham ignorado isso por eu já ter ido antes no Japão? Sim, mas não tem como saber porque eles não são abertos sobre o processo.
  • tenha reserva de avião de todos os trechos: eu queria sair de San Francisco/US, e comprar a passagens do Brasil pra lá só mais perto da viagem. Só depois de reservar minha passagem é que descobri, lendo comentários em blogs, que eles não aceitam que esteja faltando reservas desde o Brasil. Tive de reservar novamente antes de ir no consulado, correria total. Você está na Ásia e pensando em ir pro Japão? Vai ter problema com visto se não tiver todos os vôos já reservados.
  • use Booking.com para hotéis: assim como passagens aéreas, você precisa das reservas de hotéis. Isso você faz no Booking.com sem esforço e sem pagar. Os quatro hotéis que reservei ficaram lá reservados por meses, e depois cancelei.
  • formulários são confusos, mas use-os: embora os PDFs que você tenham que baixar para preencher sejam muito, muito antigos, use-os. Claramente as instalações dos consulados são antigas. As mesmas revistas que vi na sala de espera em 2012 estão lá ainda em 2023! E consequentemente, esses PDFs são a linguagem do pessoal que trabalha no consulado, então se você tentar usar outros formatos, é melhor que seja familiar senão você pode acabar simplesmente tendo seu pedido negado.
  • não precisa imprimir os PDFs para preencher: no seu computador, você pode editar o PDF, escrever texto por cima. É muito melhor digitar no documento e ao final imprimir, você vai ser muito mais rápido assim.
  • prefira uma entrada no Japão: é possível pedir um visto onde você sai do Japão, visita outra lugar e depois volta, só que ele é 2x mais complicado, afinal você precisa ter todas as passagens. Imagina você comprar sua passagem de Tokyo para Seoul, e de volta para Tokyo, e ter seu visto negado? Eu particularmente não faria esse tipo de visto. Visto de uma entrada é suficiente pra grande maioria das viagens.
  • “A regra não é clara”: você não vai saber todas as regras porque o consulado não é claro. Você vai ter que ler muito comentário de blog pra entender como os fiscais julgam cada caso.
  • mostre que você tem renda: inclua documentos PJ, contratos de trabalho, extratos, recibo de IRPF, talvez IRPJ também se você é autônomo. Se você não nada de dinheiro provavelmente vai ter o pedido negado.
  • use o ChatGPT para o itinerário: porque de outra forma você vai levar horas criando uma lista de lugares para visitar. O consulado pede isso, e pede que você preencha num PDF bem antigo. A beleza da coisa é que você pode apresentar esse itinerário, mas depois ir em lugares completamente diferentes. Pois o ChatGPT cria esta lista em 10 segundos enquanto você vai levar 20 horas manualmente.

A Reserva de Passagens com PNR

Na minha segunda ida, eu queria evitar comprar uma passagem antes do visto. Então resolvi arriscar e criar uma reserva na Onward Ticket.

A Onward Ticket reserva pra você uma passagem para você por 48 horas, com preço de $14. Ela tem um código PNR que é verificável em sites de companhias aéreas, então o pessoal do consulado pode verificar sua reserva. A alternativa seria comprar uma passagem por mais de R$6.000 por pessoa, e jogar roleta da sorte. Nesse caso era pior ainda porque queríamos ir de business class (encontramos umas promoções com valor próximo a econômica).

Na primeira que vez que tirei meu visto, pediram 2 dias para revisar o visto, mas desta vez, para meu choque, pediram 7 dias! Isso significa que é necessário ir no consulado imediatamente depois de pegar as reservas, ou seja, compra a passagem de manhã cedo antes de ir no consulado pra ter uma intersecção maior dos dois prazos. Isso me causou uma ansiedade absurda porque eu moro a 3 horas da cidade do consulado, e certamente a reserva expiraria e eu seria negado.

Felizmente, quando peguei meu visto, que foi aceito, a data de aprovação era exatamente 2 dias após minha entrada. Em outras palavras, eles revisaram minha passagem em seguida, pouco antes dela expirar. Por pouco não sou negado.

É realmente importante que a reserva seja real?

Sim, segundo muitos comentários em blogs de pessoas que foram negados por causa disso, mas no meu caso uma reserva PNR foi suficiente. Por isso esta dica é por sua conta e risco. Se você não se sente confortável, melhor comprar uma passagem.